terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Filhos de Gandhy

O Filhos de Gandhy, um dos principais blocos de afoxé da Bahia, nasceu em 18 de fevereiro de 1949 a partir de uma mobilização dos estivadores de Salvador. Preocupados com a falta de trabalho nos portos, em meio à crise do pós-guerra, os trabalhadores decidiram colocar um bloco na rua. 


O sindicato estava sob intervenção do governo, e ninguém poderia prever a reação da polícia. Um dos idealizadores do grupo, Vavá Madeira, sugeriu o nome Filhos de Gandhy, inspirado pelos princípios pacifistas e em homenagem ao líder hindu Mohandas Karamchand Gandhi, assassinado em janeiro de 1948.


Entretanto, a letra "i" de Gandhi foi substituída intencionalmente por "y", para evitar possíveis represálias pelo uso do nome de uma importante figura do cenário mundial. 

A iniciativa deu certo e assim começava uma das mais belas manifestações populares da Bahia. O bloco já chegou a reunir cerca de 14 mil pessoas em seus desfiles e é composto por associados de diversas classes sociais. 


As tradições se mantiveram. As mulheres participam apenas na confecção das indumentárias e roupas dos Filhos de Gandhy. São entoados cânticos no ritmo ijexá e na língua iorubá. 

O adereço inclui, além do turbante e das vestimentas, um perfume de alfazema e colares azul e branco (azul representando Ogum, e o branco representando Oxalá. E há quem diga que as nuances do azul claro nas vestes fazem referência a Oxossi). 

Durante o carnaval e ao longo do ano, esses colares são oferecidos para os admiradores como forma de desejar-lhes paz. Mas uma lenda diz que os colares usados pelos foliões também são oferecidos às mulheres em troca de um beijo. 


Em 1983, o Afoxé Filhos de Gandhy recebeu do governo da Bahia uma sede própria, no Pelourinho, onde até hoje funciona a administração, seus ensaios e todo projeto cultural e social da entidade. 

Em suas diversas atividades, o grupo tem como missão pregar a paz e abrigar pessoas de todos os credos, condições sociais e etnias. Tornou-se um local de visitação obrigatório para turistas de todo o mundo que visitam o centro histórico de Salvador.

Em novembro passado, em comemoração dos seus 61 anos de existência, os Filhos de Gandhy receberam das mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a comenda de ordem do mérito cultural.


Este ano, mais uma vez, foi maravilhoso vê-los. Os Filhos de Gandhy levaram o toque dos clarins e agogôs do Circuito Batatinha (Pelourinho) para o Circuito Osmar (Campo Grande) na tarde do último domingo (14/02). O bloco saiu pontualmente às 16h15 do Largo do Pelourinho, onde foi feita a oferenda a Exu, o tradicional Padê do Gandhy, que abre os caminhos para uma festa de paz.

O característico tapete branco da paz é formado nas ruas pelos Filhos de Gandhy, considerado pelo Guinness World Records o maior afoxé do mundo. Depois do cântico para Exu, os mais de 8 mil foliões seguiram pela Rua Chile em direção à Praça Castro Alves para entrar no Circuito Osmar, em Salvador. 


Os Filhos de Gandhy entraram no circuito logo atrás do bloco Coruja, com Ivete Sangalo, dando sequência ao desfile pela Avenida Carlos Gomes.

Neste Carnaval, o bloco teve como tema "Gandhy: ontem, hoje e amanhã com a força das folhas"

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