sexta-feira, 12 de março de 2010

Devassamente hipócrita

A única cerveja que aprecio, e mesmo assim, só tomando muito de vez em quando, é a cerveja tipo Malzbier. Que é doce e tem um baixo teor alcoólico (geralmente entre 0 - 1%).


Mas em 2003, eu conheci uma cerveja artesanal, até então feita no Rio de Janeiro, batizada de Devassa. Eu adorei o nome!... Sem contar, que a escolha de uma pin-up para ser símbolo da marca, foi perfeita.

Não preciso nem dizer que virei fã da Devassa, sem mesmo tomar um gole dela. Até porque não ainda não existe malzbier Devassa.

E só estou explanando sobre cerveja aqui, pois não consigo acreditar que tiraram do ar o comercial da cerveja Devassa, que hoje feita pela Cervejaria Schincariol (ainda de maneira artesanal apesar da larga escala), com a conhecidíssima e polêmica modelo Paris Hilton.


A proibição se deu no início deste mês, depois de um processo movido por um consumidor. A liminar retirou o comercial de circulação por ferir letra "a" do item 3 do Anexo "P" do Código de Autorregulamentação Publicitária, que afirma que o "anúncio não poderá ter eventuais apelos à sensualidade não constituirão o principal conteúdo da mensagem" e que "modelos publicitários jamais serão tratados como objeto sexual".

A campanha ainda enfrenta outros dois processo no Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar). Um aberto pelo próprio Conselho, é contra a promoção veiculada no site do produto - chamada "Caça-Devassa". 


O outro, foi um pedido da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. O órgão, que tem status de ministério no governo federal, alegou que o site da Devassa tem conteúdo sexista e desrespeitoso à mulher.

O Grupo Schincariol respeitou o processo e retirou o comercial do ar em respeito a decisão tomada pelo Conar. 

Mas a proibição do anúncio com a Paris Hilton causou reações apaixonadas nas mídias sociais aqui e no exterior. No Twitter, foi criado um movimento chamado #voltadevassa que atingiu mais de quatro mil tweets em menos de três horas pedindo a volta da campanha. 


O assunto chamou a atenção de veículos especializados em propaganda dos Estados Unidos e do jornal New York Times. Que questionam se a garota-propaganda seria muito sexy para o Brasil e lembraram que o anúncio foi lançado no carnaval, quando mulheres seminuas aparecem na mídia com destaque.

Luis Claudio Taya, diretor de marketing do Grupo Schincariol, não nega que gostou da exposição positiva que a denúncia provocou na mídia. Não apresenta números, mas diz que duas redes de supermercados pediram mais estoque de Devassa. Taya reconhece que tanto o Conar como os anunciantes terão de considerar a força das mídias sociais ao desenvolver campanhas.  


Publicitários que trabalham para outras marcas de cerveja questionam a estratégia. "Quando vi o nome Devassa, uma marca que nasceu no Rio num clima descontraído, ser associado a Paris Hilton, que tem fama e comportamento condizente com a palavra, pensei: isso vai dar confusão. E deu. Há muitos brasis e o pessoal mais conservador não gosta desse tipo de associação", diz um publicitário que não quis se identificar.

O publicitário Átila Francucci, hoje da Young & Rubicam, mas que esteve à frente da campanha de lançamento da Nova Schin, chama de hipocrisia a reação do Conar, mas acredita que isso é fruto da briga por mercado, muito acirrada entre as cervejarias. "Experimentei dificuldades similares quando fiz a campanha da Nova Schin."


Esse episódio me levou a algumas reflexões sobre o comportamento da nossa sociedade e reforçou em mim a ideia de que vivemos um período de excessiva invasão do espaço de realização das liberdades individuais pelos mecanismos de poder social.

O primeiro e mais forte pensamento que me acometeu foi o do uso inadvertido do comportamento politicamente correto. Que nasceu com propósito o de reduzir preconceitos, preservar o outro e percebê-lo como igual e próximo a mim, à cultura do politicamente correto tem faltado o ingrediente da razoabilidade. 

Muitas vezes, esse excesso leva ao efeito contrário, reforçando o preconceito ou criando novas formas de intolerância. Tolerância implica leveza, humor, afeto e, principalmente, liberdade. Não se constrói a tolerância democrática pela sisudez raivosa. A tolerância habita mais o território do desejo libertador que o da cultura repressiva.


No caso da propaganda da Devassa, em que Paris Hilton (vestida) esfrega uma garrafa em seu corpo, a pretexto de proteger a imagem da mulher e evitar um forte apelo sexual, o Conar decidiu parar com tudo.

O contexto da decisão é o de inúmeras outras propagandas de cerveja, biquínis, refrigerantes, carros etc com imagens mais sugestivas do ponto de vista da sensualidade do que a da propaganda em questão. 

Mas ainda que consideremos só a proibição do comercial, fica a pergunta: Por que é um desrespeito à mulher a expressão corporal do desejo?... Fala sério!... Que hipocrisia!...

Afinal, qual o problema em ser objeto do desejo do sexo oposto ou de pessoas do mesmo sexo?... Qual o grande pecado em provocar este desejo?... Convenhamos, esse feminismo assexuado é, antes de tudo, chato!...

Loura, ruiva, negra, índia, sarará... não importa, escolha a sua devassa ou não, e se embreague.

Para saber mais sobre a Devassa... www.devassa.com.br

Clique aqui e confira o polêmico comercial.

2 comentários: