domingo, 15 de maio de 2011

100 anos depois, o maldito permanece eterno

Poucos músicos tiveram uma vida cercada por uma aura tão diabólica e com tão loucos confrontos pessoais em seu destino como esse bluesman.



Mesmo depois de 10 décadas, ele continua sendo considerado o maior bluesman que encarnou neste planeta, eu estou falando do cantor e guitarrista norte-americano de blues Robert Leroy Johnson, ou simplesmente Robert Johnson, como é conhecido até hoje.

Nascido em Hazlehurst, Mississippi (EUA), a data de seu nascimento oficialmente aceita é 08 de maio de 1911, mas provavelmente é uma data errada. Registros existentes entre documentos escolares, certidões de casamento e certidão de óbito, sugerem diferentes datas entre 1909 e 1912.  

Sua mãe chamava Julie Ann Majors, uma filha de escravos, que engravidou dele depois de se envolver com um trabalhador itinerante chamado Noah Johnson, após se separar durante um tempo de seu esposo, Charles Doods Jr, um carpinteiro também filho de escravos.

Depois de anos separada, Julie se estabilizou em 1918 com Robert "Dusty" Saunders, que trabalhava em uma plantação de algodão em uma área chamada Robinsonville. Lugar onde Robert Johnson cresceu. Desde cedo aprendeu a tocar gaita com certa habilidade, mas preferiu aprender a tocar guitarra apesar de ter bastante jeito tocando também harpa.

Ainda adolescente chamava-se Robert Spencer, até que sua mãe lhe disse que seu pai verdadeiro era Noah Johnson. Foi nesse momento que ele adotou o sobrenome de seu pai biológico e partiu para seguir os passos de seus ídolos e principais influências: Son House, Willie Brown, Lonnie Johnson, Ike Zinneman, Leroy Carr, Kokomo Arnold, Charlie Pattons, Peetie Wheatstraw, e Skip James. 

Em fevereiro de 1929, Robert Johnson se casou com uma jovem chamada Virginia Travis, que morreu aos dezesseis anos, em 1930, justamente no momento do parto. Após esse infeliz acontecimento, ele desapareceu do mapa, dedicando-se a uma vida nômade. O que se sabe é que ele foi para Hazlehurst, em busca de seu pai biológico, fato que não se concretizou e em 1931 se casou com uma mulher mais velha chamada Callie Craft. 

O casamento não deu muito certo e Johnson voltou para Robinsonville, e passou a tocar em tudo que é tipo de lugar, compartilhando seu gosto por blues, muitas mulheres e elevado consumo de álcool.

De modo notável, Johnson apareceu novamente com Willie Brown e Son House em Robinsonville, tocando guitarra de forma surpreendente. Son House disse que Johnson passou a tocar daquela maneira assombrosa, depois de ter vendido sua alma ao diabo, na encruzilhada das rodovias 61 e 49 em Clarksdale, Mississippi, com seu violão e uma garrafa de whisky adulterado. 

Depoias de um bend escandaloso de uma gaita cromada, o dêmonio se identificou, tomou seu violão, o afinou um tom abaixo, e o devolveu para Johnson que o tocou como ficou registrado em suas gravações. De forma espetacularmente única. 

Todos acreditaram na história, pois achavam era muito pouco tempo para alguém como Johnson chegar a tão elevado nível técnico, com a rapidez e a habilidade que deslizava seus dedos nas cordas e a profundidade emocional que interpretava as canções.

Este mito foi difundido principalmente por Son House, e ganhou força devido às letras de algumas de suas músicas, como "Crossroads Blues", "Me And The Devil Blues" e "Hellhound On My Trail".

O mito também foi inspiração para gravação do filme "Crossroads" (Encruzilhada), de 1986, e também do episódio 8, da segunda temporada da série televisiva "Supernatural".

Mitos a parte, Robert Johnson partiu para a região sul dos Estados Unidos, tocando com maestria sua música, seja nas ruas ou em bares, dividindo o palco com outros bluesmans de seu tempo, como Johnny Shines, Frazier Calvin e Sonny Bo Williamson. Nessas viagens não se esqueceu de se divertir com mulheres e embriagar-se com doses cavalares de whisky.

Em meados da década de 1930, Johnson conseguiu gravar seus despojados e emocionantes temas com produção de Don Law através da mediação de Ernie Oertle. No selo Vocalion, que ficava na cidade de San Antônio, onde realizou a primeira sessão de gravação, em novembro de 1936, a posteriormente a segunda e última sessão realizada em Dallas, Texas, em junho de 1937. 

Robert Johnson gravou apenas 1 disco, e 29 músicas, em sua carreira. Músicas históricas como "Terraplane Blues", "Sweet Home Chicago", "Preachin Blues", "Kind Hearted Woman Blues", "Stop Breaking down", "Love In Vain" e "Crossroads".

A curtíssima carreira de Johnson chegaria ao fim em 1938 enquanto tocava em um local chamado "Three Forks", em Grenwood, uma localidade do Mississippi. Robert Johnson estava envolvido com uma jovem casada. O marido enciumado e inconsolável, dono do estabelecimento, sabendo das incursões amorosas de sua esposa, naquela noite acabou conseguindo envenenar com estricnina o whisky de Johnson. 

Sonny Boy Williamson, que estava tocando junto com Jonhson, disse que o havia alertado sobre o whisky, porém este não lhe deu atenção, e bebeu assim mesmo.

O pobre rapaz agonizou durante três dias, convulsionando e uivando como um lobo antes de morrer com a idade de 27 anos, no dia 16 de agosto de 1938, em Greenwood.

Apesar desta ser a versão oficial de sua morte, outras versões para seu falecimento também são conhecidas como a de que ele teria morrido de sífilis, e outra de que ela teria sido assassinado com arma de fogo. Seu certificado de óbito cita apenas "No Doctor" (Sem Médico) como causa da morte.

Mais de 70 anos após sua morte Robert Johnson ainda continua sendo um dos músicos mais influentes do Mississippi Delta Blues e uma importante referência para a padronização do consagrado formato de 12 compassos para o blues. 

Seu estilo único influenciou consagrados nomes da música e ainda influencia novos grandes artistas. Entre eles podemos citar Muddy Waters, Led Zeppelin, B. B. King, Bob Dylan, Jimi Hendrix, Brian Jones, The Rolling Stones, Johnny Winter, Jeff Beck, The Blues Brothers, Red Hot Chili Peppers, The White Stripes e Eric Clapton, que considera Johnson "o mais importante cantor de blues que já existiu", e gravou um disco inteiro em sua homenagem interpretando suas músicas. 

Por suas inovações, músicas e habilidade com a guitarra, Robert Johnson ficou em quinto lugar no ranking dos 100 melhores guitarristas de todos os tempos da revista Rolling Stone.

Mesmo sendo freqüentemente citado como "o maior cantor de blues de todos os tempos", ou mesmo como o mais importante músico do Século XX, muitos ouvintes e apreciadores do blues tem ressalvas ao conhecer o seu trabalho, pois o estilo peculiar do Delta Blues e o padrão técnico das gravações de sua época estão muito distantes dos padrões estéticos e técnicos atuais.

Embora Johnson não tenha efetivamente inventado o blues (há rumores de que foi Charley Patton a primeira estrela do delta blues), que já vinha sendo gravado 15 anos antes de suas gravações, seu trabalho modificou o estilo de execução, empregando mais técnica, riffs mais elaborados e maior ênfase no uso das cordas graves para criar um ritmo regular. 

Num tempo em que ainda não existiam as guitarras elétricas, as tremidas de cordas de Johnson atravessaram os tempos, e o blues elétrico de Chicago na década de 1950 foi criado em torno do estilo dele, além de existir uma linha direta de influência entre a obra de Johnson e o Rock and Roll que se tornaria popular no pós-guerra.

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