sexta-feira, 10 de abril de 2009

Di Chiaro Luna para o Imagick

Uma de minhas alegrias, foi ver a pessoa que amo contribuindo com seus textos para o boletim de uma instituição que também amo muito.

Aqui estão os textos de Pietra Di Chiaro Luna, publicados nos boletins Imagick...


Boletim Imagick - Novembro de 2005


"Por toda história registrada do mundo e de suas religiões, o poder do sexo sempre foi uma força motivadora, mesmo quando não reconhecida como tal. Ele foi elevado às alturas e atirado às profundezas mais abjetas da humanidade, mas nunca deixou de ser, por si mesmo, o dom supremo do Criador". (1)

Em Stregheria ou ramificações de Bruxaria Tradicional e Hereditária falamos bastante e cultuamos com muita freqüência os nossos ancestrais. 

É lindo podermos olhar para fotos antigas e sentir as mãos daqueles que já foram em nossos ombros, olhando por nós e abençoando nossos passos. No entanto, geralmente pensamos neles como Espíritos, Guias, Deuses, Lares ou qualquer outra denominação que nos agrade - o imagético fica sobre uma forma etérea. Este mês resolvi pensar neles de uma forma mais humana, mais carnal e quente. Se não fosse a sexualidade de nossos ancestrais, não estaríamos aqui. Então, os convido a explorar os hábitos sexuais dos gregos e romanos e suas implicações devocionais.

Primeiramente, gostaria de colocar que o trabalho de magia/religião e sexo é tão antigo quanto a humanidade. Os orientais perceberam isso e conceberam diversas formas de explorar mais uma expressão divina: a da Criação. Com o tempo, os europeus começaram a ver diferentes formas de canalizar essas energias. Os resultados disso se mostram nas diversas culturas: dos fenícios aos celtas da Bretanha. Acredito ser muito interessante - e saudável - enxergar o sexo como um presente, um instrumento à nossa disposição. Porém, como uma faca que nos ajuda a preparar alimentos ou nos defender de inimigos ele pode ser o nosso carrasco. Sexo é um uma arma forte e destrutiva: de mentes e corações. Ele demanda de muita energia e muito desprendimento, além da intimidade. Quando aliamos sexo à magia e ao culto ao divino, todas as possibilidades aumentam exponencialmente. Logo, penso que sexo, magia e ética - ou no mínimo, acordos - são companheiros inseparáveis para a sanidade dos magistas.

Na Grécia, o sexo podia ser ambíguo. Havia ritos de castração e sacrifício de rapazes nos Mistérios da Samatrácia. Também poderia ser visto como uma dádiva divina, exaltado em diferentes rituais como os de Pã e Priapo. O fato é que a mitologia e os costumes gregos estavam impregnados por envolvimentos sexuais. Zeus certamente foi um dos deuses mais notáveis neste campo. Pai de diversos deuses e semideuses, ele pode ser entendido como uma força masculina fertilizadora; uma chuva que caia sobre a Terra a fim de fazer com crescesse e aflorasse.

Uma forma de mostrar a fertilidade espiritual - pois era o grande Deus - e material, uma vez que seus filhos eram parte da Criação física. Além disso, mostra um forte aspecto da cultura grega: a conquista sobre outros povos. As mulheres, humanas ou deusas, fertilizadas pelo deus são uma representação das nações que os gregos dominaram. Outros deuses também podem nos dar símbolos das visões do sexo. Vale pensarmos em Dionísio, deus da embriaguez e do vinho. Suas festas e ritos tomaram a Grécia e Roma, gerando festas alegres, orgiásticas e de fertilidade. Vale também pensar que as Bacantes - sacerdotisas do romano Baco, identificado a Dionísio - levavam o sexo a um ponto animal: mais uma vez o sangue poderia correr juntamente com o gozo em ritos mágickos e religiosos. Sem dúvida o tempo e a "civilidade" dos ocidentais fizeram com que esses ritos chegassem a ser banidos pelos romanos.  

Roma trouxe uma perspectiva um tanto mais triste para essa questão. Com o passar das gerações, a adoração deixou de estar no sexo como instrumento sagrado: ele se tornou um comércio tão complicado como o que existe nas grandes cidades de hoje. Existiam no auge do Império, pelo menos, 11 diferentes classes de prostitutas. Das mais ricas e influentes, como as "delicatae"; às filhas e esposas de homens influentes que se deitavam com diversos parceiros por prazer, estas são as "famosae"; às "copae" que eram garçonetes de tabernas, que se deitavam por uma pequena quantia de dinheiro com aquele que pagassem. Uma outra infeliz constatação do Império era a adoção de bebês para se tornarem escravas ou prostitutas quando maiores. Um filme que pode retratar essa questão da decadência sexual e moral de Roma é "Calígula".

Na Grécia também existiam prostitutas. Elas estavam em três classes diferentes: "hetíaras" que eram semelhantes às "delicatae"; as "diteríadas" que eram escravas sexuais; "auletríadas" que eram artistas e agradavam os gregos tanto com dança e música como com sexo. É conveniente pensar que a prostituição não era necessariamente uma fonte de problema na antiguidade, pois existiam sacerdotisas responsáveis pelos cultos sexuais em diversas culturas. A questão se centra no mal uso que tomou a civilização ocidental. Os romanos caíram embriagados pelos seus excessos: terra, sangue e sexo. A divindade, o presente dos Deuses foi esquecido. A experiência espiritual da união carnal se diminuiu ao comércio, pedofilia e escravidão. Será que não estamos rumando para o mesmo caminho? 

Algumas tradições mágickas, incluindo algumas streghe, têm na união sexual um dos pontos da iniciação de seus neófitos. Ora feitos com um cunho meramente representativo e de encenação, ou pela união de corpos, o hierogamos  é uma das manifestações do poder criador da divindade, da combinação das essências formadoras da Natureza. 

O sexo é uma necessidade biológica como a de comer e beber. A dádiva está presente no prazer que temos em satisfazer todas essas necessidades. A potencialidade dela está no poder de criação. Nowicki (1994) coloca que a trindade que o sexo representa: fertilidade, amor e prazer foi o que manteve o ciclo de sobrevivência humana.

Eu acredito que saber saborear essa necessidade traz a dádiva dos Deuses. A criatividade e as mil experiências sensórias que o sexo nos mostra são ferramentas maravilhosas na prática mágicka. Apreciar o corpo e a essência do outro pode ser tão delirantes quanto ritos xamânicos ou projeções astrais. A responsabilidade reside em preparação mágicka, compreensão do que se faz e uma motivação.  

O sexo, o prazer, a magia e suas expressões podem ser uma bela iniciação; além de um doce momento devocional: com os Deuses e com o nosso parceiro.

Benedizioni di Vênus, Afrodite e Turan 

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Boletim Imagick - Agosto de 2006


"Nosce te Ipsum" 
(Conhece-te a ti mesmo)  
na entrada do Templo de Apollo em Delphos 

Um dos meus temas preferidos... e o mais legal é que podemos pensar em vários exemplos de oráculos quando pensamos em Bruxaria Italiana.

Honestamente, eu acredito na estreita relação do oráculo com o estudo das religiões ou religiosidades pagãs. Primeiro, por que faz parte da tradição popular, quero dizer, muitas das senhoras responsáveis pelas curas das comunidades também eram os oráculos desses lugares. Segundo, porque faz parte das nossas práticas modernas e os oráculos saem das penumbras do conhecimento para tomar o mundo!

Mas claro, podemos ir mais além em "formalidades": sem dúvida houve Delphos, mas também as histórias das Sibilas no mundo romano, sendo a Cumaíca a mais famosa (em sua gruta perto de Nápoles). Hoje também temos ciganas lendo baralhos ou mãos em Roma ou brasileiras lendo tarot para as italianas em Florença.

Tarot ainda que é uma das minhas paixões que me leva a montar um flog** e colecionar cartas. Sinto até que o tarot me ajudou a construir meu Caminho, a entender como as coisas acontecem e quem sou eu nesse plano. Talvez quem lide com o tarot ou outro oráculo, com o tempo tenha o mesmo sentimento.

Aliás, a história da Itália com o tarot é vasta e interessante. Embora pouco se saiba sobre a origem do tarot, sabemos que o seu conceito passou por muitos lugares ao longo do tempo. Desde o Egito e o livro de Thot até as peregrinações ciganas pela Europa, as cartas e seu jogar tornaram-se grandes na Itália, ou melhor, nos diversos reinos da península a partir da Idade Média, mas com grande destaque no Renascimento. Vários exemplos são dados e o interessante é que com o tempo e o local as cartas mudam, em estrutura, nome ou quantidade. Só a título de curiosidade: 
- dizia-se que os ciganos levaram as cartas de jogar para a Itália, mas sua chegada é posterior aos registros das primeiras cartas - séc. XV; 
- muitos baralhos se desenvolveram nas cidades italianas: o Mantegna, com 50 cartas; o de Veneza, com 68; o de Bologna, com 62 cartas já contando com os naipes usuais; o Minchiate de Florença com 78 cartas e o Visconti Sforza de Milão.

Cada um desses baralhos não são o que podemos chamar hoje de tarot, mas certamente trazem suas origens e conceito.

Exemplos dignos de nota, sem dúvida... mas e daí? O que vale o oráculo? Será que ser bruxa implica em desvendar o futuro alheio ou saber se o marido da Fulana vai voltar?

Resposta: um grande e redondo NÃO! Claro que tudo isso ajuda e em parte, é parte do trabalho da strega aliviar o coração das pessoas - nem que for sobre homem... ai ai!

Precisamos saber que dentro de nós reina um EU que não é tão simples de desvendar. Temos sim uma vela quando olhamos para dentro de nós, mas quando aprendemos a lidar com uma ferramenta como o tarot, por exemplo, cada arcano vivido e entendido passa a ser uma lâmpada permanentemente acesa dentro de nós, que elucida ao longo do Caminho o EU, o Divino que somos...

Independentemente do tipo de oráculo que operamos, o que importa aprendemos sobre símbolos e sobre insights. Viver os arquétipos dos oráculos nos dão ferramentas para crescer e lidar com as nossas próprias vidas. Eu acredito que os arcanos ou as runas ou os búzios - qualquer um deles - são Caminhos para atingirmos o que chamamos de Eu Divino, Eu Interior, o EU... assim há crescimento e passamos a entender melhor o que acontece ao nosso redor. Se prestarmos séria atenção aos arquétipos e se estamos em contato freqüente com eles,  vemos eles acontecendo, diante dos nossos olhos, modificando nossos corações.

Uma dica para entrar em contato pessoal com esses arquétipos é trazê-los, pelo menos uma vez por mês, para nós, para nosso Caminho. Como contarei em um próximo texto, parte do meu ritual em honra à Lua Cheia consiste na entrada no Oráculo, consultando o tarot e vivendo aquele arquétipo durante a lunação. Com o tempo percebemos que ele se manifesta fisicamente... Acredito que podemos chamar isso de milagre pelo que aprendemos e pelas luzes repentinas que percebemos...

São como pequenas estrelas que aparecem no céu, apontando um caminho.

Lux!

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Boletim Imagick - Setembro de 2006


Esta quinzena eu tive uma musa inspiradora. Sentar num bar e trocar idéias, mesmo que numa conversa despretensiosa, gera a coluna do site! Pois entre um chope e outro, chegamos a um papo sobre vampirismo. Ora, qual forma de vampirismo, encantamento ou maleficência mais temida pelas nonas (ou por nós mesmos) que o olho gordo? Ou mal olhado? Ou mal'occhio? Pois é... Bate na madeira e faz figa, porque este é o assunto da coluna. 

Bom, primeiro uma historinha para ilustrar os pensamentos. Quando esta colunista nasceu, parecia com um throll de tão feia (eu tenho testemunhas!!!!). Mas o tempo foi passando e melhorando as coisas (ai eu tenho testemunhas... suspeitas). Tanto que semana sim, semana não estava a família Morselli na casa da dona Francisca. Esta era uma senhorinha baixinha que benzia crianças com quebrante. Meu pai conta que ele teve de aprender o benzimento da mulher para poder dar um pouco de sossego para ela. O que ela fazia - e meu pai faz até hoje - é uma imposição de mãos e uma prece para que o mal passe. 

A tradição de muitas dessas mulheres (e homens), dessas bruxas, diz que a inveja o quebrante vem pelos olhos. Não tem jeito: os olhos são a janela da alma. Clichê? Talvez, mas com um grande fundo de verdade. Os olhos das pessoas são uma expressão do corpo, alias uma que ninguém consegue disfarçar. Eles têm o nosso medo, orgulho, paz, cansaço e também a nossa inveja ou raiva. 

Dentro da tradição streghe existem algumas histórias sobre o poder da magia vaporosa, o jettarore. Este pode trabalhar de um lado de cura, outro de mal ou ainda como encantamento - este último conhecido como fascínio ou glamoury.

O olhar mágicko, ou jettarore, geralmente é muito temido. Acredita-se que o mal pode ser invocado sobre outrem através apenas de uma piscada, no limite de um dedo apontado sob olhos cerrado e, sempre, de uma forte vontade. Alguns ainda dizem que os homens são melhores para isso. O uso benéfico (para cura) é feito vulgarmente sob a lua cheia e pelas bruxas modernas. Isto demonstra a capacidade das streghe (ou das bruxas em geral) de operar a magia de uma forma simples, quase primal. É interessante que para muitos é fácil fazer alguém ficar doente ou curar e custa apenas um olhar - sem ritos extensos, instrumentos, roupas, iniciações do milésimo grau. E da mesma forma, a proteção e/ou o banimento também o são. Benzimentos, aspergir água benta, uma fitinha vermelha em volta do pescoço ou no punho, uma figa, arruda ou um chifre: todos curam ou protegem do mal causado. Normalmente, a prevenção se baseia em distrair o maleficente: com o cheiro forte da arruda ou a cor viva do vermelho, por exemplo. As streghe dizem que os símbolos de fertilidade como o vermelho do sangue ou a figa que é uma representação da união sexual dispersam energias destrutivas. Aposto que muitos já ouviram e viram essas simples receitinhas pela vida afora...

A questão é que geralmente nos acreditamos vítimas deste tipo de prática - que é bem forte. O que não imaginamos ou não prestamos atenção é que nós podemos ser os agentes disso. Desejar o mal, ter inveja, sentir raiva são coisas comuns na vida de cada um. E muitas vezes, a intensidade das nossas emoções faz com que 'a praga pegue'. Claro que pode ser sem querer... claro que pode ser por querer! Portanto, cuidado com o que pensas e como olhas para as pessoas. E em todo caso, ande com um galhinho de arruda. Evita mais vampiros do que alho!

Benedizioni di Diana e Apollo

Lux!

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Boletim Imagick - Outubro de 2006


Um tanto intrépido esse título, assumo. Mas foi uma conclusão interessante que me veio depois de algumas pesquisas. Andei pela net e principalmente pelo livro do Carlo Ginzburg (1) para conhecer melhor esses benfeitores e me surpreendi com o que encontrei. Aqui divido com vocês algumas das minhas idéias sobre essas pessoas especiais.
Os primeiros registros sobre os benandanti, pelo menos com esse nome, aparecem nos autos da Santa Inquisição, predominantemente a partir de 1610, na região de Friula. Alguns registros anteriores podem ser achados, mas com pouca expressividade. Com o passar do tempo e a incompreensão dos religiosos, os benandanti passaram seu status de benfeitores, serventes da sociedade para bruxos e feiticeiros maus e adoradores do diabo.

Nos registros sobre os benandanti descobrimos logo de cara que existe um fundo de oposição ao mal muito grande. Existe uma luta do bem contra o mal a fim de que as colheitas - e a sobrevivência do povo - prosperem. Para tal, os benandanti iam à uma batalha noturna combater, com ramos de erva-doce, bruxas e feiticeiros (como expressão do mal e muito daquela "lenda" de bruxa medieval) que lutavam com sorgo (2). O vendedor dessa batalha ocorrida nos Quatro Tempos, isto é, quatro vezes por ano, declaravam a fortuna de um povo. Foi colhido de diversos benandanti que se tratava de um combate entre as forças do Bem, lideradas por eles com a benção de Cristo, contra os Feiticeiros, adoradores do Diabo. No entanto, não se escolhia um benandanti, como uma escola iniciática. Eles nasciam com uma marca: uma membrana na placenta, a qual poderia ser usada depois de seca como amuleto protetor. 

O trabalho dos benandanti era feito à noite. Contam os registros que eles entravam em estados alterados e viajavam para os campos de batalha. Um ponto interessante fica por conta de como essas viagens eram feitas. Existem registros da mudança de forma da alma em ratos, gatos ou insetos. Outros colocam que não existia uma presença corpórea, mas apenas a ida da alma: algumas com o uso de ungüentos e óleos; outras sem. Nunca iriam de vassoura, pois eram um símbolo das bruxas e, logo, do mal. Mais uma associação é feita com os benandanti e o culto à Diana ou outras deusas antigas. A Associação fica por conta dos vôos noturnos proporcionados pelos seguidores da deusa; e isso ainda traz relatos sobre o que foi conhecido como "Sociedade de Diana" - que podemos encontrar no trabalho do folclorista Charles Leland e em referências nos livros de Raven Grimassi.

Em parte, a pergunta é: por que desse interesse tão repentino?  
Primeiro, eu acho mais óbvio, pelo interesse sobre tradições italianas e os registros sobre magia, magistas e práticas. Segundo, que podemos encontrar algumas referências interessantes à esses praticantes em livros e até numa pesquisa sobre São João (3). São curiosas  as coisas que encontramos "perdidas" e nos ajudam a pensar sobre o que praticamos e acreditamos. O lance dos Benandanti foi uma percepção do que seria um xamã na península itálica. Apoio-me em palavras de Carlo Ginzburg para dizer isso (4). Ele coloca: "(...) é possível afirmar-se a existência de uma conexão não analógica, mas real entre benandanti e xamãs". Embora o estudioso não se estenda neste estudo, pois considera inapropriado para esta obra em especial, existe uma ligação que pode ser, segundo Ginzburg aprofundada se olharmos para o leste da Europa e suas práticas. Ora, os estados de transe nos quais viajavam e a proteção que tinham sobre a Natureza e as colheitas, identificam práticas antigas similares a curandeiros e feiticeiros conhecidos pelo mundo tudo. Existiram registros do conhecimento de algumas ervas, "shape shifting"(5), comunicação com os mortos, trazendo para nós não apenas o escopo malhado pelo Santo Oficio, mas um mais amplo com noções de benfeitores de comunidades e da Natureza. Outra questão interessante, na minha opinião, é o fato das batalhas noturnas nunca terem um final certo. Acredito que os benandanti compreendiam que a Natureza tem uma essência inconstante e que a chegada da primavera, por si só, não garantiria uma boa colheita - diferente de rituais de outras localidades que sempre havia um vencedor nas disputas e necessariamente era a fertilidade dos campos. Adorei isso, pois me pareceu uma visão mais equilibrada e realista de processos, ainda mais quando falamos de um culto registrado nos séculos XVI e XVII e não, certamente, pagão. Acredito que suas raízes, um tanto obscuras, se remontem à práticas muito antigas, porém é muito interessante podermos ver um culto dito por eles mesmos cristão, preocupados com o cio da terra. Enfim, não importa qual caminho que trilhamos, temos de saber sobreviver e lutar por isso, garantindo a continuidade da fertilidade: do nosso sangue e da nossa terra.

Benedizioni di Diana

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Boletim Imagick - Novembro de 2006


Coisas mil acontecem no meio do ano. Impressionante como coisas mudam do nada. Na verdade, esse é um bom exercício de práticas de budismo, assim podemos entender e lidar com essas mudanças. Mas enfim, dando fim ao devaneio: quem já não teve vontade de esganar quem puxa nosso tapete e ajudam essas mudanças a acontecer? É a lei do olho por olho...

Maldições são coisas mais comuns em nosso dia-a-dia do que imaginamos. Maldizer os outros, ou melhor, xingar, pensar mal acontece o tempo todo. O trânsito é um excelente exemplo. Tenho certeza que você, pelo menos uma vez, já mandou aquele ***** que fechou seu carro pra p***. E as escolas? Pobres professores! Bancos, ônibus, filas em geral. Nossa, como nossos pensamentos são pesados e sujos! Alguns, ainda, têm a "coragem" de por tudo isso para fora, em alto e bom som. Podemos invejá-los, até.  
 
Porém, um ponto a se pensar é que palavras são pensamentos manifestos. Verbalizar um pensamento é um ato de intenção. Eu diria ainda, intenção mágicka. Em parte é aquilo de "cuidado com o que se deseja". Aqui aprendemos duas lições importantes: a primeira é devemos disciplinar nossos pensamentos; a segunda, é para refletir sobre o que verbalizamos. 

Onde eu quero chegar é que muitos condenam o uso de maldições e/ou magia negra e afins. E talvez, os mesmos que condenam tudo isso são os mais nervosinhos no trânsito. As streghe acreditam que as maldições são, de uma forma ou de outra, uma questão de proteção da comunidade e do sangue. Uma forma de defesa. Uma lei da Natureza: sobrevivência. O ponto não é distribuir pragas e sapos pelo mundo, mas sim, poder manipular e tentar controlar ameaças feitas contra os nossos. E para as streghe um ponto é pacífico: mexeu com a família, a coisa fica muito feia. 
 
Pesquisando, encontrei em Aradia, "The Gospel of the Witches", uma menção às maldições - e ainda a ameaça à deidade. No capítulo V, Leland menciona o limão com alfinetes: coloridos para boa sorte e os negros para tirar a felicidade e a prosperidade de outrem. Neste último, o encantamento diz a Diana que se Ela não fizesse a maldição acontecer, a bruxa não a deixaria descansar. Sinceramente, eu acho isso interessantíssimo. Mostra uma forma, diferente da nossa bruxa, de lidar com divindades e com o uso da magia. Também acho que não cabe aqui julgar certo e errado: cabe entender essa questão e identificar-se com ela ou não. 

Outras fontes para se recorrer nesse tocante é o das vinganças: afinal, a maioria das maldições acontecem por vingança. Na mitologia helênica temos quatro deusas que se destacam: Nêmesis e as Erínias (Thisiphone, Megera e Alecto). A primeira, era a Deusa que resolvia pendências. Era um instrumento de justiça: a vingança justificada. E quem a chama tem de estar preparado para tudo, pois a Justiça passa e limpa tudo, logo devemos ter cuidado com os julgamentos mundanos e de cabeça quente. Já as Erínias são deusas da retaliação; para elas não importa de onde veio o pedido de vingança: ele apenas é feito. Uma outra função das Erínias é castigar aqueles que matam o próprio sangue.  

Athena

Um último "alguém" que vale mencionar é Athena. A grande deusa da Justiça. Ela não é patrona da vingança, nem das maldições. Porém ela olha para a defesa, para estratégia. Quando ameaçada, eu sempre corro para a minha "padroeira". Ela nos 'Ajuda' a manter a cabeça limpa e nos dá a calma para planejar o que fazer com o inimigo. Afinal, não é crime nenhum se defender. Na verdade, Athena é aquela que nos ensina as lições que eu já mencionei: cuidado com a mente e a boca.  Sinceramente, eu já senti a mão de Athena na minha garganta estrangulando palavras "descabidas" - e a agradeço por isso. 

Justiça, vingança, maldições. Plagiando Anne Rice, "Evil is point of view", ou seja, o mal é ponto de vista. O mal de uns, pode ser a sobrevivência de outros. Uma coisa que aprendemos das streghe é que devemos ser leais aos nossos e a nós mesmos. Uma coisa que aprendemos de Athena é que devemos saber usar a lança corretamente, para que não machuquemos quem não merece. Uma coisa que aprendemos no espelho é refletir nossas atitudes para viver em harmonia e equilíbrio, afinal existe uma teia que prende o Sol, a Lua, as estrelas, os seres humanos e toda Criação. 
  
Benedizioni di Diana

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Boletim Imagick - Janeiro de 2007


Boletim Imagick - Agosto de 2007


1996. Um cinema e uma adolescente de 16 anos. Esse é o princípio da minha história. Dez anos depois, eu penso em como as coisas aconteceram e ainda vejo muitas ainda acontecendo. Mas é preciso dizer: tudo começou com um filme chamado "The Craft" ou "Jovens Bruxas".

Acho que eu nunca vou me esquecer desse dia. Eu até matei serviço para assistir o filme na Av. Paulista. Sai do cinema meio perturbada e pensava: "Uau... o que será que realmente é possível? Será que realmente existem rituais como aqueles? Eu também quero!".

Tudo bem que em casa sempre aconteceram coisas estranhas... Gente doente vindo pedir passe para meu pai e coisas assim. Mas eu queria ir além! Ir à praia, acender uma vela... Conversar com a Natureza. Então, comprei um livro e foi o primeiro passo num caminho de pedras marrons.

Muitas coisas aconteceram. Eu fiz minhas práticas sozinha, passei pela insegurança não estar fazendo tudo certo; larguei por dor no coração... Voltei com força total, estudando, praticando, lendo oráculos. Entrei para um coven. Saí do coven. Vi coisas maravilhosas nesse meio tempo, aprendi muito. Fui para fora do país e então, encontrei a Bruxaria Italiana. Me dediquei a esse estudo e encontrei minhas raízes... Ganhei a marca da minha família, mas perdi meus dois avôs - nesse plano, pelo menos. Passei a dar palestras, escrever textos. Mas uma coisa é importante e verdade: sempre vi o Sol e a Lua Cheia sobre a minha cabeça e a Terra sob os meus pés... Além de sentir o sangue quente nas minhas veias. Aprendi a fazer um caminho.

Hoje eu recebo muitos e-mails de pessoas que, como eu um dia, estão iniciando nesse caminho. E é quando eu me lembro de tudo que eu passei. Ansiedade, curiosidade e dúvidas, muitas dúvidas.

"Será que esse caminho é para mim?";

"Serei uma boa bruxa?";

"Estarão os Deuses me ouvindo?";

"Como lidar com isso com a minha família?";

"Será que estou fazendo tudo certo?", entre muitas outras. Mas eu me lembro dessa em particular. Quando tudo começou para mim, tudo que eu tinha era um livro da bruxa norte-americana Starhawk, velas, incenso e uma convicção: vou tentar isso de Bruxaria porque eu concordo com isso.

Fiz muitos exercícios propostos pela autora no escritório do meu pai, felizmente, com bastante apoio. O tempo foi passando e a segurança chegando. Foi quando eu fiz meu primeiro ritual de lua cheia. E me lembro de ter tudo que a Starhawk falava, como velas, athame e coisas assim. 

Mais uma vez eu digo, o tempo passou. Foi quando eu fui pega pelas práticas em grupo. As quais eu preciso dizer: são extremamente importantes, pois nos dão alguns parâmetros. Podemos ter a chance de ver como as outras pessoas fazem as coisas, trocamos informações e conhecimento e temos um convívio em grupo e de confiança. Aprendemos um pouco mais sobre casamento e família, pois é isso que é um grupo. Pessoas juntas por um motivo comum, mas que não necessariamente não tenham discordâncias entre si.

Um outro momento se deu quando eu pude trazer os livros de Bruxaria Italiana para o Brasil. E mais uma vez o ciclo se iniciou. As mesmas questões vinham e eu queria saber mais e mais daquelas práticas que pareciam familiares por conta das raízes comuns entre eu e elas. Tive sorte e pude conhecer muita gente disposta a abrir seu coração e me contar um pouco do que pensavam e o que faziam. Foi quando a grande coisa aconteceu: a minha família se abriu para mim e foi quando eu fui "admitida" dentro da magia do sangue ítalo. É uma união não pelo Paganismo ou pela Bruxaria, pois cada qual aqui tem uma forma de encarar e procurar o Divino, mas pela força Mágicka que nos põe juntos.

O que eu quero dizer com tudo isso é que fazer parte da Bruxaria é um processo. Na verdade, se estabelecer em um sistema de crenças e fé é um processo, pois trabalha internamente com o que pensamos e acreditamos. Portanto, leva tempo e precisa de muita compreensão, tanto de quem está de dentro quanto quem está de fora. Porque mudar idéias ou reconstruir pensamentos não é uma coisa que acontece na noite para o dia e nem sempre é um processo simples - vide as cartas de Espadas do tarot que são muito dramáticas! 

Então, quem tem mais experiência precisa compreender que existem pessoas que estão começando hoje e que estão em uma batalha para entender o que se passa. Quem está começando também precisa entender que não é tudo que será respondido imediatamente para eles. Por fim, o que as pessoas buscam é guarida. Sejamos mais pacientes, pois por mais que tenhamos 10 ou mais ou menos anos de prática temos muito mais a aprender e a passar. Viver Bruxaria, a Italiana inclusive, pode ser um processo de uma vida toda. 

Por fim, penso que é normal ter vontade de se "vestir de bruxa", andar de grandes pentagramas para ser reconhecido por seus pares, de ir a encontros pagãos de mãos suando e pensando "quem será que eu vou conhecer?". Cada um de nós passou por um desses "sintomas" de início. São partes do primeiro passo e talvez nosso papel, como mais "experientes", seja poder estender uma mão aos que têm dúvidas e sinceramente querem compartilha-las. Porém isso só acontece quando nos sentimos seguros do que pensamos e cremos. Esse é um excelente exercício, será que estou estável em minhas pernas para ajudar um outro a se sustentar? Um jeito de saber é se olhar com honestidade e reconhecer a sua verdade. 

Uma vez eu li que precisamos respeitar os outros, pois como nós eles passam por uma batalha todos os dias. Avante, irmãos! Mais um lindo dia se estende a nossa frente!

Lux!

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Boletim Imagick - Fevereiro de 2007


Escrever sobre bruxaria é sempre um desafio. Ela representa um universo imenso, cheio de pequenas estrelas, e seria injustiça não cobrir todas elas. Colocar o que é esta religião (para uns) e filosofia (para outros) que atrai tantas pessoas; quem são esses Deuses que são tudo... No entanto, com espaço limitado, está aqui uma abordagem aos aspectos mais importantes (?). Em futuras oportunidades, falaremos sobre diferentes tradições, mitologias, panteões, liturgias, ou seja, cobrindo todas as brilhantes estrelinhas.
Origens da Espiritualização

O fazer mágico e de harmonia com a Natureza, que é corrente para os bruxos, vem de tempos antigos, nos quais os homens se entendiam como parte da Criação. Desde o tempo do Neanderthal observamos a espiritualização do homem: em parte como tentativa de compreender e sobreviver no mundo.

Observa-se a sacralidade das cavernas e dos animais como deuses, ancestrais, guias e protetores. Com o passar do tempo, a figura humana passa a integrar ritos, sob as figuras dos xamãs e das Vênus.

Os xamãs são desenhados nas paredes das cavernas representando o poder mágico humano e animal, chegando às esferas do divino. Já as Vênus são esculturas que representam o poder fértil e nutridor da mulher; até então, não se entendia plenamente o mecanismo feminino x masculino da Natureza.

Magia Primitiva

Juntamente com as manifestações já colocadas, os antigos faziam magia através de rituais ou do seu dia-a-dia.

Na pré-história era indispensável que os animais estivessem ao alcance da lança dos caçadores ou que, mais tarde, os campos agrícolas estivessem verdejantes. Desenvolveu-se entre esses homens o que Frazer (1889) chama de "magia imitativa". Rituais, pinturas, atos, feitiços, festas e manifestações diversas eram feitas imitando a caça, os animais ou a fertilidade da Terra. Para eles o efeito era semelhante à sua causa, e esta "lei mágica" perdura até hoje.

Outra forma de manifestação mágica era (e ainda é) a magia por contágio, ou seja, na qual um elemento influência outro através do contato. Daí nasceram tradições de maldições e benefícios usando roupas ou cabelos, unhas e objetos pertencentes a alguém.

Até aqui, alguns se perguntam, então a bruxaria é pré-histórica? Talvez não ela per se, mas com certeza seu embrião de crenças e práticas.

Funções em Grupos e Praticantes Solitários

O tempo passa e as sociedades se desenvolvem. Junto com elas, suas práticas e crenças. E assim, cada grupo foi construindo suas formas de se ligar ao divino e a forma de concebê-lo. Desta forma, nasceram e criaram-se os clãs, famílias com crenças próprias de cada um; tribos; grupos e praticantes das ciências da Natureza como parteiras, herbários, boticários, xamãs que cuidavam do bem-estar de uma comunidade. Foram eles os percussores das ciências naturais e ocultas.

Cada sociedade passou a ter um sistema. Os celtas tinham como sacerdotes e sacerdotisas os druidas. Adoravam deuses e deusas, tinham heróis e sua mitologia mostrava uma gama de objetos mágicos. Tinham uma roda óctupla de festas, destacando o Samhain que marcava o ano novo. Eram um povo guerreiro e desenvolvido e aplicavam a igualdade entre sexos. Segundo Aengus (3), na verdade não existem provas concretas para indicar uma celebração propriamente dita dos solstícios e equinócios entre os celtas da Idade do Ferro (período em que os druidas estavam ainda "em vigor") - este inclusive é um assunto ainda polêmico, mas basicamente quem trouxe à luz essa idéia do ano octuplo entre os druidas foram as primeiras ordens druídicas inglesas do século XVIII (tais como a OBOD) as quais são conhecidas por seu druidismo romântico, carregando influências maçônicas (como era de se esperar para a época).

Os ciganos, possivelmente originários da Índia, ainda são um povo nômade que adota o sistema religioso do lugar no qual se encontram. Têm uma vasta tradição em divinação, feitiços de amor e fidelidade tal qual, maldições.

Os itálicos, descendentes de vários povos, tinham diferentes panteões. No cerne dos romanos, seus ritos se destacavam pela devoção à terra cultivada e aos deuses urbanos; já os etruscos apresentavam um refinado culto aos mortos e às fadas. 
Todos esses povos influenciaram a bruxaria e se influenciaram entre eles mesmos. Durante a idade antiga houve muito intercâmbio de informações e liturgias - principalmente via romanos - vistas até hoje.

Estes povos, entre muitos outros da antiguidade prosperam com suas formas e caminhos até a ascensão da Igreja Católica e sua sede de hegemonia religiosa e controle político. Então, chega a Idade das Trevas na qual fenecem as Artes, a cultura clássica, as ciências e muitos dos que conheciam os segredos da Natureza.

Bruxaria Hoje

A Bruxaria sempre esteve presente, mais ou menos exposta. Em 1951 foi revogado o último embargo legal à Bruxaria na Inglaterra, gerando publicações e a sua popularização, principalmente na forma da Wicca.

No entanto, a Bruxaria não existe de uma maneira somente e ao longo do tempo sofreu influências de sua região e dos contatos desta. Frater Aleph (1) nos coloca que houve uma certa hermetização e aplicação de conceitos de ordens iniciáticas como a Golden Dawn e a Ordo Templi Orientis. A primeira trouxe, essencialmente, elementos como a evocação dos elementos da Natureza e suas correspondências, o chamado aos Guardiões e a construção do círculo mágico. A segunda, a influência da Lei: 'Faz o que tu queres, pois é tudo da Lei', sendo alterada pedindo que não se prejudique ninguém. Sem dúvidas, esta é uma questão controversa e que gera diversas discussões sob a legitimidade ou não desses "toques" herméticos.

Como eu já coloquei, a Bruxaria é uma bela e ampla árvore que tem diversos galhos e estes, seus ramos. Trago então alguns de seus galhos. No fim do texto, estão os contatos das pessoas mencionadas.

Ásatrú

O Ásatrú é uma religião como a Bruxaria e suas reconstruções neopagãs. É chamada de velha religião do norte germânico e escandinavo da Europa, e vem se mantendo dentro das tradições. O interesse daqueles que descendem dos predecessores desta religião é de mantê-la como os antigos a conceberam. A palavra "Ásatrú" vem do islandês que segundo traduções do dinamarquês significava a crença nos Deuses do Aesir. As origens da religião estão perdidas na antiguidade. No seu cume, esta cobriu todo o Norte da Europa. Em 1000 CE, A Islândia se tornou a antepenúltima cultura Nórdica a se converter ao Cristianismo. Suas motivações prioritárias foram econômicas. A Suécia foi governada por um rei Pagão até 1085 CE.

Quem se dedica a esta religião tem, fundamentalmente, as seguintes crenças: 
- Aesir: são os Deuses de uma família, clã, grupo, tribo, etc. 
- Vanir: são os Deuses da fertilidade e forças da Natureza. 
- Jotnar: são Deuses, também conhecidos como gigantes, representando o caos. 
- Os Nove Nobres Valores: "coragem, verdade, honra, fidelidade, disciplina, hospitalidade, trabalho, independência e perseverança". Além disso, despem-se de preconceitos contra os diferentes e são grandes devotos de suas famílias e ancestralidades (4).

Bruxaria Natural

A Bruxaria Natural é entendida por quem a pratica como uma filosofia de vida e não uma religião. Ser bruxa segundo esses preceitos é conhecer a Natureza e tudo que ela nos oferece reverenciando o divino da forma que lhe parecer mais correta, ou seja, o praticante pode ser uma bruxa católica, espírita, budista, etc. Geralmente trabalham muito bem com herbalismo, cozinha e remédios naturais, além de terapias alternativas e divinação. Podemos encontrar pessoas que trabalham com este conceito de bruxaria como a Tânia Gori, proprietária da Universidade Holística Casa de Bruxa, onde ministra cursos e rituais para quem deseja conhecer a Bruxaria Natural (5).

Bruxaria Tradicional

A Bruxaria Tradicional remonta as práticas feitas pelos grupos de uma determinada regionalidade, notavelmente na Grã Bretanha e na Irlanda. Eles acreditam na sacralidade da Terra e no compromisso das pessoas com a sua sobrevivência. Acreditam num panteão de Deuses que representam as forças da Natureza e trabalham junto com eles. Geralmente estão desagregados dos elementos herméticos e cerimoniais presentes em algumas religiões neopagãs como círculos mágicos e indumentárias rituais. Alguns grupos ainda não acreditam em uma religião per se, pois nunca se sentiram desligados do divino; acreditam basicamente na força e conexão deles com o lugar onde vivem. Existem alguns poucos grupos e praticantes desse tipo de Bruxaria Tradicional, um deles no Rio de Janeiro, sob coordenação do Aengus (3).

Stregheria

A Stregheria ou Bruxaria Italiana é um dos vários ramos da bruxaria. Esta se remonta aos tempos antigos da península itálica e seus vários povos: etruscos, romanos, latinos, etc. além das influências recebidas de ciganos, celtas. A bruxaria italiana tem uma gama extremamente grande de tradições, práticas e crenças, pois ela se desenvolve dentro de famílias e por hereditariedade, porém existam grupos e tradições que aceitam pessoas de fora. Existe também dentro desta, um sincretismo com a religião católica, ou seja, bruxas que praticam magia e durante essas rezam a Jesus e Maria. Na verdade, a pluralidade é tão larga que fatalmente algum aspecto seria deixado de fora. Em base, no entanto podemos encontrar as crenças na Deusa Diana e Apollo, Lúcifer, Virbios ou Dianus (dependendo da região), uma grande dedicação à natureza e seu equilíbrio, rituais e valorização da ancestralidade e hereditariedade, ritos às mudanças da Natureza, uma vez que elas proporcionam o sustento das pessoas e são os reflexos deles mesmos. As tradições mais famosas são a Tríade: Tanarra, Fanarra e Janarra; e a tradição Aridiana, fundada por Raven Grimassi e o Clã Umbrea. No Brasil, existem alguns praticantes, principalmente hereditários ou "escolhidos", porém é difícil encontrar um grupo que pratique. Eu trabalho com essa parte da bruxaria, para contato meu endereço eletrônico está no fim do texto.

Wicca

A Wicca é um dos maiores expoentes do neopaganismo. Inclusive é motivo de confusões entre ela e a bruxaria per se. A palavra wicca varia do inglês antigo "wicce", palavra de raiz anglo-saxã, que significa moldar ou as pessoas que moldam suas vidas, também valendo como pessoa sábia. Ela foi adota pelos pais da bruxaria moderna, Gerald Gardner e Doreen Valiente a partir da década de 1950. Acredito que a Wicca seja hoje a religião dentro do neopaganismo que tenha mais seguidores no Brasil. Em todo mundo, ela abriga várias tradições com clãs, grupos, covens, famílias e praticantes solitários. As crenças e práticas da Wicca podem mudar um pouco de acordo com cada praticante, mas seu conceito básico continua o mesmo: "Sem prejudicar ninguém , faça a sua vontade". Outra parte importante da crença wiccana é a "Lei Tríplice" que afirma que todos os atos terão uma contrapartida vezes três. Além disso, existe a adoração à Deusa e seu consorte, dentro de círculos mágicos; festas para as luas cheias e uma roda óctupla que saúda a Natureza em seus aspectos de vida-morte-renascimento.

Existem muitos covens no Brasil, mas para poder fazer parte deles demanda tempo, estudo e boa-vontade: tanto do aspirante quanto dos sacerdotes. Porém para que estudos possam ser conduzidos existem grupos especiais que auxiliam os buscadores, este é o caso do Água da Lua, coordenado pelo MillenniuM (2). Existem também grupos independentes que fazem seus estudos e rituais de acordo com suas necessidades.

Concluindo

Finalmente, existem muitas verdades da Bruxaria e suas muitas vertentes. Essas são criadas dia após dia, lua após lua pelos seus praticantes e estudiosos. Muitos trabalham sob diferentes perspectivas e os desenvolvem com grande competência. Como disse um amigo, hoje precisamos de gente que se unam pelas igualdades e não se dividam pelas diferenças. Queremos bruxos de todos os ramos que sejam críticos e reflexivos, pois creio que estamos já cheios de repetidores de versos. O poder e a alegria estão em sermos capazes de alterar a realidade. Então que ela seja refeita todos os dias por pessoas compromissadas. O livro mais sagrado dos Deuses está aberto para todos, dia e noite: toda a Criação, toda a Natureza e nós mesmos. Harmonia e equilíbrio para quem busca.

Agradecimentos:
1. Frater Aleph, pelos esclarecimentos sobre as ordens de Thelema e Golden Dawn, além do carinho e paciência.
2. MillenniuM, sacerdote wiccano e o Projeto da Água da Lua.
3. Aengus, pelas informações e pitacos sobre bruxaria tradicional.
4. Gwydyon Drake, pela ajuda na questão mitológica e por todo apoio.
5. Universidade Holística Casa de Bruxa, em Santo André, SP.

Lux! 

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Boletim Imagick - Março de 2007


A Itália passou a ser o país como o conhecemos a pouco mais de 100 anos. Antes disso, era apenas a península Itálica, dividida em diversos reinos. 
Voltando um pouco mais no tempo, mais ou menos a 1000 ac, vemos esta região populada por diferentes povos: dos etruscos, altamente desenvolvidos tecnologicamente para a época, passando pelos Latinos  e terminando nos Villanovanos, que são considerados os indo-europeus do local. Neste momento histórico, os romanos ainda não são donos de um império e os gregos mostram muita influência sobre estes povos. A religião etrusca é influenciada pelos gregos e as práticas dos neolíticos – passando sua influencia, agora, para os romanos – que nunca foram detentores de uma cultura própria. Este caldeirão de culturas deu origem à Itália e sua Vecchia Religione. 

A Vecchia Religione ou Stregaria é a velha religião ligada a Natureza (como a Wicca), é a bruxaria italiana. Em italiano temos palavras para designar bruxa e bruxo que seriam, strega e stregone, respectivamente.  Há também uma palavra para coven, boschetto. 

Na Itália central, as bruxas adoravam a deusa Diana e seu consorte, o deus Dianus. Fora de Roma, na região dos Montes Albanos, elas se reuniam nas ruínas de um templo de Diana, às margens do Lago Nemi.

No século XIV, uma mulher muito sábia que se “intitulava” Aradia, renasceu a Velha Religião. Deste esforço, se formaram três tradições, que em origem, eram uma só. As tradições são conhecidas como Fanarra, Janarra e Tanarra. Coletivamente, são conhecidas como a Tríade de Tradições.

A Fanarra é original do norte da Itália e são conhecidos como Guardiões dos Mistérios da Terra; a Janarra e Tanarra são do centro da Itália. A Janarra é conhecida como Guardiões dos Mistérios da Lua e a Tanarra dos Mistérios das Estrelas. Cada tradição tem um “líder” chamado Grimas. Ele deve ter conhecimento das outras duas tradições e sua função é fazer com que a sua tradição continue. 

Existe também a tradição Aridiana , proveniente da vila de Arida – dizem que as maiores parte dos discípulos de Aradia vieram desta localidade no centro da Itália. As maiorias dos praticantes modernas da Stregaria seguem essa tradição. A maioria dos ritos desta apostila são Aridianos. 

Como uma religião baseada na natureza, os Aridianos reconhecem a polaridade de gênero dentro da Ordem Natural, e personificam isso como A Deusa e o Deus. O ano é dividido em meses do Deus (outubro a fevereiro) e meses da Deusa (março a setembro). Ambos, Deusa e Deus, são reverenciados e são iguais em importância. Um detalhe é que durante os meses do Deus, os rituais são feitos com robes/ túnicas e nos meses da Deusa, sem roupa alguma. Outra coisa é que durante os meses do Deus, o sacerdote se ocupa de mais “incumbências” nos esbaths. 

Os grupos/covens da tradição Aridiana possuem diversos cargos. Estes são de Sacerdotessa e Sacerdote; em seguida vem a Dama D’onore e La Guardiã, que são respectivamente, a Donzela que auxilia a Sacerdotisa nos rituais, e o Guardião que é responsável pela segurança da Sacerdotisa (o que de fato é interessante, pois não vivemos mais em uma época de perseguição, ou não deveríamos :)). É interessante também ressaltar a similaridade com o sistema gardeniano e alexandrino . Os sacerdotes são a representação dos Deuses nas encenações dos rituais... 
 
Este texto é a introdução ao livro  
Stregheria - Vecchia Religione da Itália 
Para ter acesso a conteudo completo 
entre em contato com a Pietra.

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Boletim Imagick - Junho de 2007


Nesses 10 anos de estudo de Bruxaria e espiritualidade, eu já me deparei com muias coisas interessantes. Conheci pessoas muito legais, gente com muita coisa para ensinar. Vi práticas maravilhosas que eu mesma tive chance de participar. Também soube de coisa com as quais eu não concordei, mas afinal, tempo é tudo para destruir e construir opiniões. Porém é certo que na vida, tudo precisa ser "viva e deixe viver".
Bem, eu estou mesmo num clima de retrospectiva essas últimas semanas. Esse ano faz 10 anos que esse mundo mágicko se descortinou para mim! Então, resolvi dividir algumas experiências curiosas que eu tive. Foram momentos que eu soube que estava entrando em contato comigo mesma.

Logo que eu comecei a estudar, aconteceu a primeira coisa curiosa. Eu tinha 15 para 16 anos e a vida era muito light: amigas, cinema, escola, um emprego de 2 vezes por semana, fazer inglês e fazer rituais e meditações na medida do possível. 

Foi então que um dia, uma amiga me convidou para uma festa na casa de uns meninos que eu não conhecia. Lá na tal festa, eu conheci um moço deveras interessante e fiquei imaginando o quão legal ia ser dar uns beijos naquele cabeludo. Foi quando ele veio conversar comigo... tudo que passava na minha cabeça era: "olha bem nos olhos dele, mostra para ele como você é bonita". E isso se repassou muitas e muitas vezes na minha cabeça enquanto eu olhava para o moço. E não é que ele solta, "Poxa, você é mesmo muito bonita". YES! Deu certo. Eu vi o cujo mais umas duas vezes, mas a reação não foi a mesma e eu acabei por desencanar. O que é tão legal em relação a isso? Em 2000 quando eu trouxe o livro do Grimassi para o Brasil, eu li um lance de jettatura e quase morri enfartada! Jettatura ou gettatura é uma magia que se faz com os olhos, uma magia sútil, que o Grimassi chama de "magia vaporosa", na qual você passa um encanto para uma outra pessoa pelos olhos. Pode dar em mal olhado, pode dar em cura... deu nuns beijinhos. Pode até ser que tenha sido meio manipulativo. Mas, o tão legal foi que eu sabia o que fazer, mesmo sem saber o que era =)

Já há uns 2 anos atrás, eu me vi numa situação muito complicada em relação à ex-mulher do meu namorido.

Agora em junho de 2006, conversando com a amiga Crocodilo Negro, descobri que nossas famílias tinham práticas parecidas para parar o granizo de cair.

Quando vemos, ouvimos, lemos ou sabemos que coisas que fazemos sem razão aparente têm um eco em alguma prática ancestral é de arrepiar, literalmente!

É nessas horas que eu tenho certeza do carinho e da dedicação dos meus ancestrais, de que eles nos indicam um caminho e que desejam que possamos ir além nesse plano. Isso me entusiasma mais a incentivar o contato com os Antigos de forma a procurar quem somos e assim , o que precisamos fazer e ser... as dicas são ancestrais... são sabedoria popular ricas e à disposição de quem se dignar a ouvir!

Você já se encontrou nas experiências de outros? Sentiu um arrepiu na espinha? Posso garantir que é uma delícia! 

Lux!
  
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Boletim Imagick - Outubro de 2007


Aradia é uma personagem importante e interessante na Bruxaria Italiana; eu me arriscaria a dizer em toda a bruxaria até. Algumas coisas foram escritas sobre ela, existe um livro com seu nome, porém alguns mitos foram criados. Tentando esclarecer dúvidas e mostrar um pouco do que é o livro "Aradia, o evangelho das bruxas" e a Aradia, la Bella Peregrina eu escrevo a coluna desta quinzena. 

La Bella Peregrina, nome com o qual ficou conhecida nos montes albanos até a Sicília, tem um significado grande para muitas tradições e clãs da Bruxaria Italiana, como a Ariciana e a Tríade de Tradições - Janarra, Fanarra e Tanarra. 

Lembrada como a professora e mestra das Streghe, Aradia não queria ser adorada: seu intuito era reviver com os camponeses dos feudos os Caminhos Antigos. Passou seus ensinamentos viajando e conversando, reaproximando as pessoas de suas raízes. 

Ela apontava a Vechia Religione como um alívio ao massacre religioso do cristianismo da época. Com o tempo, ela passou a ter discípulos, 6 homens (um deles era celta) e 6 mulheres. Quando Aradia passou a ser perseguida, esses discípulos saiam em casais para levar seus ensinamentos a diante. Seu símbolo, após sua partida era, e ainda é, a Chama Sagrada que é acesa no meio do altar.  

Ela é o fogo perene de seus ensinamentos e de nossa ligação com o Espírito do Caminho Antigo. Por fim, seus discípulos também foram perseguidos e muitos mortos e acredita-se que os pergaminhos, nos quais seus ensinamentos foram registrados, trancados no Vaticano. 

Alguns documentos históricos indicam a passagem de uma mulher peregrina pelo norte da Itália e indicam que talvez ela tenha passado seus últimos anos na Romênia. 

Os ensinamentos de Aradia têm um cunho de simples entendimento e observação completa da Natureza. Ela fala sobre a Deusa Diana e o Deus Dianus ou Lúcifer; discorre como a Natureza é a maior de todas as professoras; deixa para os camponeses o valor e a importância do casamento baseado no amor e no respeito; sobre a força da sexualidade e sua magia; ela deixa um alerta sobre os cristãos, um cuidado que deveria ser tomado naquele momento de perseguição; e deixa um elenco de 13 "conselhos", que são conhecidos como "Covenant of Aradia": visando a convivência harmoniosa entre todos os seres da Criação. 

O Evangelho das Bruxas foi escrito em 1889 por Charles G. Leland, folclorista inglês e estudioso de diversas culturas. Nesta publicação ele expõe ao público o relato de tradições, costumes e estórias de mulheres que se chamavam streghe (bruxas). A fonte de Leland era uma delas, Magdalena. Não se sabe bem ao certo se o que está no livro é a cópia fiel dos escritos das streghe ou se eles foram romanceados. 

Ele conta como Diana e Lúcifer deram a vida a Aradia e como ela se tornou a primeira Strega. A Aradia do livro também tem um caráter de professora, mas ela é nascida dos deuses. Existem no texto de Leland também uma larga influência de termos e ideais judaíco-cristãos, como no momento em que diz que Aradia não será como a filha de Caim (este mencionado algumas vezes), e o uso da palavra "amen" no fim de alguns feitiços. Raven Grimassi (1999) ainda coloca que o uso do nome de Lúcifer tenha sido por uma propaganda, o que atiçaria ânimos: será que este povo tem alguma ligação com o satânico? A resposta clara é não, uma vez que Lúcifer é a Estrela da Manhã, ou seja, o Sol - Appolo, o irmão gêmeo de Diana. 

A leitura do Evangelho deve ser feita com critério. Nada do que está lá pode ser levado ao pé da letra. No entanto é mister percebermos que ele traz uma grande gama de tradições e idéias que podem ser bem aproveitadas na nossa prática. Ele é um parâmetro de cultura e ética antiga. Ele deixa claro que se faziam maldições, rogavam pragas e ameaçavam as deidades (como fazem os católicos que penduram santos de cabeça para baixo e afins). Tudo isso era visto como legítimo para essas streghe e como uma coisa corriqueira.  
 
Elas não sofriam a influência de uma filosofia mais oriental que fala de kharmas e coisas nesse gênero. Eram camponesas, filhas da Natureza que agiam como tal: pisas no meu pé, eu imediatamente piso no teu. 
Eu acredito que, de um ponto de vista histórico e social, é impossível fazer um juízo de certo ou errado sobre essas práticas. 

Uma curiosidade sobre o Evangelho está no capítulo XI que descreve um pouco sobre a Casa dos Ventos e sua história. 

Existem muitas semelhanças com a vida da Aradia histórica.

Conclusões: existe o fato interessante de alguns relatos do livro se parecerem com práticas neopagãs, como o "Charge of Aradia" que tem grandes semelhanças com o "Charge of the Goddess" apresentado por Doreen Valiente. Além da similaridade com práticas feitas por bruxas italianas de muito antes da publicação do Vangelo (evangelho), como a nudez ritual como símbolo de liberdade e sinceridade, o que traz credibilidade aos escritos do livro - ou pelo menos, parte deles. 

Por tudo que eu li, estudei e pratiquei até agora, a conclusão mais importante é que "os livros são bons conselheiros". Não é possível seguir um livro em 100% dele - isso se torna fundamentalismo. Hoje temos a capacidade e a oportunidade de sermos críticos: bruxos, magistas capazes de reflexão sobre o que lemos, ouvimos e praticamos a fim de não nos basearmos numa verdade infundada e cega. 

Aceitemos que o livro é um ponto de partida, mas é necessário desprendimento e vontade para saber mais a fundo sobre, por exemplo, quem foi Aradia, qual a importância de Diana, por que Lúcifer é citado e quem ele é realmente para que não nos tornemos meros repetidores de versos. Sejamos bruxas e bruxos responsáveis e cientes de nosso papel como tais: investindo em nosso conhecimento e crescimento. 

Lux!

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Boletim Imagick - de 2007


The thundering waves are calling me home, home to you 
The pounding sea is calling me home, home to you. 
On a dark new year's night 
On the west coast of Clare 
I hear your voice singing 
Your eyes danced the song 
Your hands played the tune 
T'was a vision before me. 
We left the music behind and the dance carried on 
As we stole away to the seashore 
We smelt the brine, felt the wind in our hair 
With sadness you paused. 
Suddenly I knew that you'd have to go 
Your world was not mine, your eyes told me so 
Yet it was there I felt the crossroads of time 
And I wondered why. 
As we cast our gaze on the tumbling sea 
A vision came o'er me 
Of thundering hooves and beating wings 
In clouds above. 
As you turned to go I heard you call my name. 
You were like a bird in a cage, spreading its 
Wings to fly 
"The old ways are lost" you sang as you flew 
And I wondered why. 
The thundering waves are calling me home, home to you 
The pounding sea is calling me home, home to you. 
The thundering waves are calling me home, home to you 
The pounding sea is calling me home, home to you. 
The thundering waves are calling me home, home to you 
The pounding sea is calling me home, home to you.

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I spent a most haunting New Year's Eve in Doolin, County Clare, Ireland some years ago, and was moved by the antiquity of some of the celebrations. Yet I was met by deep reminders that they nay be the remnants of the old world meeting the "new". - L.M. 

Eu passei uma véspera de ano novo quase assombrada em Doolin, County, Irlanda há alguns anos atrás e fiquei tocada com a antiguidade de algumas das celebrações. Ainda me encontrei com antigas lembranças que elas podem ser recordações do mundo antigo encontrando com o ‘novo’. - L.M.

Música e letra de Loreena McKennitt - Do álbum The Visit (1991) 

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Acho essa canção uma das mais bonitas da Loreena. Embora meu background não seja em nada ou quase nada celtista, irlandês ou afins, essa música e sua temática falam com a minha alma. Mais freqüentemente que não, ela termina em lágrimas além de ser a minha música oficial de dia de Finados. 
Foi ouvindo essa música pela trilonésima vez que me veio a vontade de escrever sobre a experiência de estar, ver e/ou ouvir os ancestrais. É uma coisa de toda lua cheia, mas que eu sempre escuto: “Como isso é feito?”. Com um intuito de explicar um pouco mais sobre isso, venho com esse texto baseado numa música tão especial. 
 
Eu costumo dizer em muitas das minhas palestras que quem ama não esquece. E sinto que nossos ancestrais nos amam e não nos esquecem. 
Nem nesse plano, nem em nossa prática e nem em nós mesmos. 

Assim, a chance de estar com eles na lua cheia é muito importante numa prática que acredita que resgatamos parte de nosso ser nesse olhar ao passado. 

Eu sinto que a cada ritual de lua cheia é possível fazer uma ponte... De criar um momento que fica além de vida ou morte, ontem e hoje. A mesma lua que esteve sobre a cabeça deles está sobre as nossas agora e de quem vier depois. Quão mágicko é isso? 
 
Ao construir um templo, chamar os elementos, o Divino e os nossos ancestrais dentro de um rito estamos efetivamente estabelecendo um diálogo com a Criação. E o que é parte dessa Criação? Nós, os seres divinos que nasceram de outros... E que hoje estão em outros planos, mas atentos a nós. Dessa forma, quando os convidamos para o rito, permitimos um encontro de energias e de almas. Podemos sentir e conversar com os nossos pais, avós, guias, mestres, Lares... Os nomes variam, mas o sentimento é o mesmo. É a força de quem segue em diferentes lugares o mesmo caminho. 

No começo estranhamos... Temos a impressão que estamos falando sozinhos ou mesmo respondendo para nós mesmos. Com o tempo, a prática, o hábito percebemos: nunca estamos sozinhos! E quando percebemos isso, geralmente choramos. E sentimos aquele abraço que faz falta. Aquela palavra de carinho. Aquela “dica” que procurava.

Quando meu avô morreu, eu senti muito. Foi muita dor, muita saudade. Na música isso vem também na diferença de caminhos dos sujeitos da música. “Suddenly I knew that you'd have to go/ Your world was not mine, your eyes told me so”. Sabemos que eles têm de ir. Sabemos que nós mesmos iremos. E na alegria de sermos os ancestrais de alguém um dia. Por mais que os mundos sejam diferentes, eles podem estar juntos... Nem que seja uma noite, uma vez por mês.

Logo em seguida a música fala “Yet it was there I felt the crossroads of time/ And I wondered why”. Já me perguntei por que estou aqui agora e não antes ou porque não me lembro de antes. Ao mesmo tempo, eu percebi que dentro de um ritual sentimos esse cruzamento do tempo. É a nossa oportunidade de muito transcender e reviver o que o nosso coração pede. São os nossos melhores rituais.

Por fim, <"The old ways are lost" you sang as you flew/ And I wondered why>. Não acho que os caminhos antigos estejam perdidos. Afinal, NÓS estamos aqui... Voltando para casa a cada ritual, a cada lua cheia, a cada ritual sazonal... A cada vez que nos lembramos de quem realmente somos! Não percam a chance de sentir e perceber em seu próximo ritual!!! Os caminhos antigos não estão perdidos. Eles estão conosco: os buscadores.

Lux!

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