quinta-feira, 4 de junho de 2009

Meu avô era Dionísio

Nos últimos dias, meu avô por parte de mãe, tem passeado em meus sonhos e pensamentos. E por essa razão resolvi escrever sobre ele.

Muitas vezes em minha vida ouvi a frase... "Pais são pra educar, avós são pra estragar."

Mesmo pequeno eu entendia o que isso queria dizer. Minha mãe e meu pai estavam sempre ali colocando limites e ditando regras. Já meus avós passavam a maior parte do tempo mimando a gente, e as vezes até nos ajudando a fazer "arte". Mas em todos os casos, ficava claro o amor que todos sentiam por nós.

Mas hoje falarei especificamente de Benedito Blandino, um charmoso e esbelto mulato (filho de um italiano branco e com uma brasileira negra), sempre vaidoso e preocupado com a tendências da moda, sem fugir ao seu estilo. 

Cliente assíduo de boutiques e salões de beleza e estética masculinos, ele sempre se apresentava perfumado, de cabelos tratados e bem cortados, unhas dos pés e das mãos feitas, bigode fino e aparado, com a pele sempre hidratada e macia. Amante da boa comida, de bebidas, das festas, da dança, da música, e de tudo que pudesse lhe proporcionar prazer e alegria, freqüentava desde ambientes muito sofisticados, até as altas rodas da boemia paulistana e carioca.  

Sem dúvida um hedonista com todas as letras, que tinha como maior vício a compulsividade da conquista, e a eterna paixão pelas mulheres. Fato que fez minha avó sofrer muito (ainda com minha mãe e minha tia pequenas), até ela decidir que viveria apenas para suas filhas. Hoje sei que depois disso, os dois passaram a ter uma vida praticamente de conhecidos dividindo a mesma casa. Mas conviveram juntos até 1978, quando ele faleceu aos 56 anos, por complicações nos pulmões em decorrência do vício do cigarro.

Em nenhum momento, relatando isso, estou aprovando ou não, as atitudes de meu avó com relação ao casamento com minha avó. Aqui só quero externar as deliciosas experiências que eu como neto pude vivenciar com ele.

Graças a esse avó dionisíaco, entre meus 3 a 4 anos de idade, fui iniciado no mundo da música, da dança, das festas, nos prazeres e belezas do mundo terreno, e na força espiritual dos orixás (meu avó era de camdomblé).

Quase todos os finais de semana que passei com ele, ficávamos até altas horas da madrugada ouvindo seus discos, que passavam pelo samba, bolero, tango, rumba, mambo, bossa nova, jazz, indo por vezes até a música clássica e a ópera. E nesses momentos ele falava sobre sua vida, contava histórias, revelava curiosidades sobre os artistas, sobre a vida na noite, e o encanto das mulheres.  

Exímio dançarino, ele me ensinou dançar todos os ritmos, e desenvolver um prazer especial pela arte da dança. Tanto que me tornei bailarino por quase oito anos. 

Ele me levava para conhecer a vida cultural da cidade, os monumentos, os lugares históricos, e falava sobre tudo isso com uma paixão que envolvia qualquer pessoa.

Lembrar de meu avó, me faz lembrar de Dionísio. Da alegria, e do sentimento de festa que sua simples presença me trazia. 

Independente do erros, ou atitudes impensadas que ele tenha cometido, Seu Blan (como gostava de ser chamado) me amava e foi um avó muito dedicado. 

O amor que desenvolvi pela arte e a cultura, e os sentimentos hedonistas que exalam dos meus poros, tiveram sua semente plantada por ele.  

Com um avó Dionísio, e um neto filho de Pan, ficou difícil não ver na minha vida um grande cortejo.  Evoeh!...

7 comentários:

  1. Esse lance de cortejo na família acontece mesmo, né?
    Impressionante...

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  2. Não sei... posso estar enganada, me corrija, por favor, se eu estiver enganada, mas puxando a sardinha para o meu Ilê, toda a sua narrativa me fez pensar sabe em quem?? Na corrente do Seu Zé Pilintra... huahuaahua. Quem poderia ser mais dionisíaco, enfim, né? hahahahaha. ;-P

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  3. Da próxima vez que nos encontrar-mos, te mostrarei uma foto dele... Sim ele ela o próprio Zé Pilintra!... rsrs... Acertou na mosca!...

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  4. ahhhh, por isso que vc é assim né??? rsrsrsrsr
    Seus relatos me lembraram do Seu Frota, meu saudoso avô, velho nordestino e mulherengo (o que causou até suicídio), eles se pareciam, deve ser por isso que eu tb sou assim, kkkk

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  5. Pois é, Quel... Esse DNA é terrível!...rsrs...

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  6. Que bacana, tb percebo os Deuses em meus Ancestrais, é bem interessante mesmo essas ligações espirituais e sanguineas!!!!Esse seu avô deve ter sido o cara,agora por esse paragráfo eu diria que ele tb teria um toque de Afrodite ou até mesmo de Apolo:
    "Cliente assíduo de boutiques e salões de beleza e estética masculinos, ele sempre se apresentava perfumado, de cabelos tratados e bem cortados, unhas dos pés e das mãos feitas, bigode fino e aparado, com a pele sempre hidratada e macia. Amante da boa comida, de bebidas, das festas, da dança, da música, e de tudo que pudesse lhe proporcionar prazer e alegria, freqüentava desde ambientes muito sofisticados, até as altas rodas da boemia paulistana e carioca. "

    Super bacana!!!

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  7. Não tinha parado para pensar desse lado...
    Mas é verdade, Dark... Com certeza tem Afrodite por aí.

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